domingo, 15 de maio de 2011

Reencarnação: Vinte Casos

Título: Reencarnação: Vinte Casos
Twenty Cases Suggestive of Reincarnation, 2 edition, 1974

Autor: Ian Stevenson

Tradutor: Carolina Coelho Lima

Editora: Vida & Consciência

Categoria: estudo

Edição: primeira (agosto de 2010)

Proposta:
Apresentação dos casos sugestivos de reencarnação mais representativos nas pesquisas do autor. Análise e comparação das várias hipóteses para explicação dos casos.

Formato:
Tamanho muito grande para uma leitura de, no mínimo, 20 horas. Os casos sugestivos de reencarnação são agrupados em capítulos por país ou cultura e representam a parte principal do livro. No final há uma boa parte reservada para discussão dos casos e das hipóteses explicativas.

O projeto gráfico é muito bonito com destaque especial para a coloração diferenciada das primeiras páginas. Por outro lado, houve um descuido na revisão dos textos. Há muitos problemas editoriais como palavras emendadas, grafias incorretas, parágrafos quebrados incorretamente.

Linguagem:
Na apresentação dos casos a linguagem é bastante descritiva. Os detalhes são muitos e exige uma atenção redobrada do leitor para não perder o fio da meada. Já na introdução e discussão dos casos a linguagem é mais argumentativa e fácil de acompanhar.

Avaliação:
O livro apresenta de forma séria, metódica e responsável um estudo sobre casos sugestivos de reencarnação. Dentre os inúmeros casos pesquisados o autor seleciona um conjunto de 20 casos realmente representativos do total pesquisado. Cada caso apresenta particularidades distintas e isto estimula a continuação da leitura. Ao longo dos capítulos o autor também vai se referindo corretamente aos casos anteriores de tal forma que permite ao leitor construir uma linha de raciocínio interessante.

Os casos são apresentados cheios de detalhes. É o que se espera de um estudo rigoroso, mas, por outro lado, a leitura fica um pouco cansativa e exige um certo esforço do leitor. Ainda assim o autor procura ser objetivo e organizado. Apresenta as idéias de forma metódica e sem dispersão. Particularmente interessante é o registro em tabelas das afirmações das crianças sobre suas outras vidas.

É digna de nota a responsabilidade e honestidade na apresentação das hipóteses explicativas para os casos. Há um cuidado todo especial ao utilizar os adjetivos. Por exemplo, o autor não esquece de colocar o adjetivo sugestivo para os casos de reencarnação. Também trata todas as possíveis hipóteses com a mesma seriedade e respeito. Aliás, em todos os casos o autor examina primeiramente as hipóteses ditas normais como a fraude, a criptomnésia, e a imposição de personalidade. Somente depois de analisá-las o autor parte para hipóteses que consideram a sobrevivência após a morte como a possessão e a reencarnação.

Além do cerne principal do livro, que é a análise da hipótese reencarnacionista, o leitor ainda pode refletir sobre vários aspectos específicos de cada caso apresentado. Por exemplo, pode se perguntar sobre o momento da reencarnação. Pode pensar a respeito da questão da justiça divina. Pode refletir sobre os conceitos de individualidade e personalidade. Enfim, este estudo amplia a visão do leitor para esta possível realidade da reencarnação.

Discussão:
Seguem abaixo algumas passagens:

Página 20 do Artigo do dr. Ian Stevenson:
"Todos nós morremos de algum tipo de aflição. O que determina a natureza dessa aflição? Eu acredito que a busca da resposta nos leva a pensar que a natureza de nossas doenças pode ser proveniente, pelo menos em parte, de vidas passadas."
O autor instiga o leitor a refletir sobre certos pontos e estimula a leitura do estudo.

Página 27 do Prefácio da segunda edição:
"Apenas aproveito para reiterar que considero estes casos sugestivos de reencarnação, e nada mais que isso. Todos os casos têm falhas, assim como todos os relatórios."
A preocupação em ser bem compreendido é um dos pontos fortes do autor.

Página 69 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"Esse caso [do Jasbir] tem a característica incomum de que a personalidade anterior com a qual o indivíduo se identificou só morreu cerca de três anos e meio depois do nascimento do 'corpo físico do indivíduo atual'."
Será que o processo de reencarnação se inicia mesmo na concepção?

Página 121 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"As lembranças aparentes de muitos casos do tipo reencarnação incluem detalhes dos últimos dias ou meses da vida da personalidade anterior."
Informação interessante. Será que as memórias mais recentes do espírito são mais vivas?

Página 140 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"... acho que existem muitos outros casos na Índia (e em outros países) em que uma criança se lembra de alguns (ou talvez muitos) detalhes de uma vida anterior, mas como o caso não tem traços sensacionalistas, ou os pais não desejam investigar o assunto, ou se envolver em qualquer publicidade, as afirmações são ignoradas e a criança, aos poucos, se esquece do que se lembrou."
Talvez isto explique porque em algumas culturas a ocorrência dos casos é mais frequente.

Página 142 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"Alguns anos depois, Sri Jageshwar Prasad ficou sabendo que um menino nascido em outro Distrito de Kanauj, em julho de 1951 (seis meses depois da morte de Munna), ..."
Mais um caso em que podemos nos perguntar se a reencarnação se inicia mesmo na concepção.

Página 143 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"A mãe de Ravi Shankar relatou que o menino tinha uma marca linear que lembrava a cicatriz de uma faca comprida em seu pescoço. (...) A marca parecia de nascença. Quando Ravi Shankar falava sobre o assassinato de sua vida anterior, dizia que a marca no pescoço tinha sido causada por ferimentos no assassinato."
Será que o espírito molda a marca de nascença de acordo com suas lembranças?

Página 185 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação na Índia:
"... a vantagem de minhas pesquisas, se é que existe, será espalhada de modo mais geral com as contribuições que elas possam dar à nossa compreensão da personalidade humana e da evidência de que pelo menos uma parte de nós sobrevive à morte."
Boas contribuições!

Página 205 do capítulo Três Casos que sugerem reencarnação no Ceilão:
"Em um total de 600 casos do tipo [reencarnação], as diferenças de sexo entre as duas personalidades ocorreram em apenas 5%."
Dado muito interessante! Então nas minhas possíveis últimas vinte reencarnações em apenas uma eu fui uma mulher.

Página 213 do capítulo Três Casos que sugerem reencarnação no Ceilão:
"Percebe-se que, no caso de Wijeratne, a marca de nascença (na verdade, a deformidade) é associada com a suposta personalidade anterior de um assassino. Por outro lado, nos casos de Ravi Shankar e em alguns casos do Alasca neste trabalho, as marcas de nascença são associadas com as personalidades anteriores de pessoas assassinadas."
Será que há uma explicação única para isto?

Página 236 do capítulo Três Casos que sugerem reencarnação no Ceilão:
"De modo geral, adotei a política de não incluir referência às vidas de animais não humanos que às vezes aparecem em alguns dos casos do tipo reencarnação, o que costuma ser chamado de metempsicose. (...) Seria muito difícil encontrar evidências sobre o renascimento de criaturas subumanas, mas, mesmo assim, fico surpreso com a quantidade de material apresentado a mim sobre esse assunto, em comparação com as evidências relacionadas às afirmações de reencarnação em corpos humanos."
Curioso!

Página 247 do capítulo Três Casos que sugerem reencarnação no Ceilão:
"... o caso [Ranjith] pode ser explicado pela 'identificação imposta'. De acordo com essa hipótese, uma pessoa mais velha, geralmente um pai (neste caso, o Sr. de Silva), inconscientemente impõe uma determinada personalidade em uma criança, que aos poucos assume as características desejadas pelo pai."
Explicação interessante!

Página 274 do capítulo Dois Casos que sugerem reencarnação no Brasil:
"Acredito que podemos considerar a vulnerabilidade de Marta à bronquite e à laringite um tipo de 'marca de nascença interna' relacionada à vida anterior e à morte de Sinhá."
Mais um exemplo das marcas de nascença.

Página 308 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação entre os Tlingits do Sudeste do Alasca:
"Costumamos observar, em casos sugestivos de reencarnação, que conforme a criança fica mais velha, suas lembranças da vida anterior e a identificação com a outra personalidade diminui."
Informação importante.

Página 331 do capítulo Sete Casos que sugerem reencarnação entre os Tlingits do Sudeste do Alasca:
"Muitos dos casos sugestivos de reencarnação apresentam uma forte preponderância entre os eventos aparentemente recordados, e os ocorridos nos últimos anos de vida, ou perto da morte da personalidade anterior."
Faz sentido.

Página 415 do capítulo Um Caso sugestivo de reencarnação no Líbano:
"A veracidade das pessoas envolvidas e o fato de que as afirmações da criança foram registradas antes de qualquer verificação, tornam o caso [de Imad Elawar] mais autêntico do que muitos casos deste tipo."
Realmente, o acompanhamento do caso desde o início o torna mais confiável.

Página 425 do capítulo Discussões de resultados obtidos em entrevistas de acompanhamento:
"Durante minhas primeiras investigações destes casos [de reencarnação], nunca recebi informações que me fizessem crer que os indivíduos tivessem doença mental."
Informação importante.

Página 427 do capítulo Discussões de resultados obtidos em entrevistas de acompanhamento:
"Um (Parmod) disse que o fato de se lembrar de uma vida anterior, lhe dava uma visão mais ampla da vida e um maior desapego e sabedoria para lidar com suas vicissitudes da vida, do que uma pessoa comum que tivesse apenas 'uma visão da vida';"
Faz todo o sentido.

Página 435 do capítulo Discussões de resultados obtidos em entrevistas de acompanhamento:
"De qualquer modo, o paciente deve ter acesso mais fácil às lembranças de acontecimentos acompanhados por fortes emoções, como mortes violentas."
Também faz sentido.

Página 437 do capítulo Discussão Geral:
"A fraude parece ser a primeira teoria séria que deve ser excluída nestes casos."
O autor se mostra muito preocupado com esta possibilidade de fraude nos casos.

Página 444 do capítulo Discussão Geral:
"Todo aluno de psicologia anormal ou de pesquisa psíquica sabe de muitos casos que demonstram a ocorrência de criptomnesia. As pessoas têm reproduzido, geralmente, anos mais tarde, trechos e livros ou outras informações que tinham aprendido muitos anos antes e esquecido que haviam aprendido."
O autor tem plena consciência das hipóteses explicativas para os casos.

Página 446 do capítulo Discussão Geral:
"Pickford mencionou outro caso com personificação de comunicadores e informações provavelmente derivadas totalmente de fontes normais. O suposto médium, nesse caso, ofereceu comunicações de compositores notáveis, por exemplo, Weber e Beethoven, mas ele havia lido muito (possivelmente em estados dissociados) sobre a vida dessas pessoas."
Caso bem interessante.

Página 453 do capítulo Discussão Geral:
"Essa teoria [percepção extrassensorial e personificação] supõe que o indivíduo em um caso deste, recebe a informação que ele tem sobre uma personalidade anterior, através da percepção extrassensorial, logo, ele integra essa informação e a personifica completamente, a ponto de acreditar que ele e a pessoa são as mesmas e também convence as pessoas ao seu redor dessa identidade."
Hipótese possível mas de difícil aceitação.

Página 455 do capítulo Discussão Geral:
"A segunda personalidade da entidade reencarnada, se desenvolve como uma 'camada' ao redor da personalidade anterior, juntamente com resquícios de experiências passadas. As personalidades se desenvolvem como os anéis de madeira de uma árvore ou como a concha ao redor de uma outra. Essas analogias cruas simplificam muito as mudanças, e pode ser que, na morte, a personalidade persista sem grandes mudanças ou passe por uma redução, para que reste apenas, uma série de disposições e aptidões que podemos chamar de individualidade e não de hábitos reais, habilidades que chamamos de personalidade."
Imagem bonita!

Página 459 do capítulo Discussão Geral:
"Existe uma grande relação entre a ocorrência de casos sugestivos de renascimento e as atitudes culturais que favorecem o relato de 'lembranças' de vidas anteriores."
Informação importante.

Página 467 do capítulo Discussão Geral:
"Mas se eles [casos de comunicações mediúnicas não esperadas] contribuem para a evidência de sobrevivência, essas 'visitas' dificultam a avaliação de casos do tipo reencarnação, uma vez que tornam possíveis para nós, supor que as crianças podem ter obtido a informação que tinham sobre as personalidades anteriores por meio da percepção extrassensorial sem qualquer elo de pessoas ou objetos."
Quem diria?! As comunicações mediúnicas espontâneas são um empecilho para se chegar a conclusão pela hipótese reencarnacionista.

Página 471 do capítulo Discussão Geral:
"Em primeiro lugar, a criança (ou adulto, com menos frequência) afirma (ou seu comportamento sugere), uma continuidade de sua personalidade com aquela de outra pessoa que morreu: como já foi mencionado, em poucos casos, a identificação com a personalidade anterior, se torna tão forte que a criança rejeita o nome dado a ela pelos pais atuais e tenta forçá-los a chamá-la pelo outro nome. Na maioria dos casos, o indivíduo examina o ser anterior como contínuo com sua personalidade atual, e não em substituição."
Característica bem interessante.

Página 474 do capítulo Discussão Geral:
"Raramente encontro um caso no qual as testemunhas disseram que o comportamento da criança não era como o da personalidade anterior ou que era, de modo geral, inapropriado ao que seria esperado da personalidade anterior, se ela tivesse sobrevivido."
Embora de avaliação subjetiva o comportamento da criança parece ser um dos pontos mais importantes para a avaliação dos casos.

Página 478 do capítulo Discussão Geral:
"Resta uma possibilidade de que os indivíduos obtêm suas informações em uma condição parecida com um transe de dissociação (ou mesmo em sonhos), mas apenas posteriormente comunicam com outros quando eles retomam a personalidade normal."
Sempre existe outra explicação.

Página 493 do capítulo Discussão Geral:
"Em resumo, se a personalidade anterior parece se associar com o organismo físico na época da concepção ou durante o desenvolvimento embrionário, falamos de reencarnação; se a associação entre a personalidade anterior e o organismo físico só vem depois, falamos de possessão."
Conceituação arbitrária, mas interessante.

Página 496 do capítulo Discussão Geral:
"De modo geral, não permiti nesta discussão de casos comunicações por meio de médiuns, de comunicadores desencarnados em relação aos assuntos envolvidos na escolha das hipóteses relevantes aos casos."
Acho que ele fez bem.

Página 503 do capítulo Comentários finais:
"Podemos encontrar casos que são mais bem explicados por fraude, criptomnesia ou percepção extrassensorial com personificação, (talvez com telepatia ou retrocognição). Para os outros casos, podemos dar explicações de sobrevivência, como possessão ou reencarnação."
Há várias explicações.

Página 504 do capítulo Comentários finais:
"É possível que uma solução para a questão da sobrevivência se encontra na observação de padrões, dentro de uma personalidade ou organismo que não eram ou não podiam ter sido herdadas ou adquiridas na vida atual da personalidade."
Vamos ficar atento aos padrões.

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