domingo, 22 de julho de 2012

Casos e Descasos

Título: Casos e Descasos - na casa espírita

Autor: Jáder dos Reis Sampaio e Conselheiro (espírito)

Editora: Lachâtre

Categoria: contos

Edição: primeira (abril 2012)

Proposta:
"O que me leva a publicar este trabalho é a reflexão que o Conselheiro faz sobre o movimento espírita nos dias de hoje, que enfrenta velhas questões do espírito humano. (...) sua leitura pode levar o leitor a se pensar e repensar, embora os mecanismos de defesa existam para que os menos comprometidos com o autoconhecimento projetem os temas em terceiros."

Formato:
Livro pequeno de poucas páginas que podem ser lidas rapidamente em pouco mais de duas horas. Ele contém 20 pequenos contos independentes entre si. Contém ainda um bem elaborado índice de temas que podem ser identificados nos contos.

Linguagem:
Linguagem simples e clara que torna a leitura acessível e agradável. Está escrito num Português correto e provavelmente bem revisado, embora não haja um estilo literário marcante.

Avaliação:
Estórias bem elaboradas são recursos muito interessantes para proporcionar ao leitor um momento de reflexão íntima. É assim que podem ser vistas as breves estórias contadas pelos autores deste livro. As estórias, vistas individualmente, são bem singelas e apenas deixa uma "marquinha" nas mentes dos leitores. Quando vistas em conjunto as estórias começam a reverberar e fazer sentido umas com outras e estas com a própria estória do leitor.

Dessa forma, os autores conseguem atingir seu objetivo e proporcionam aos leitores este momento de reflexão baseado nos dramas vividos por cada protagonista de cada conto. E estes dramas são mais humanos do que espirituais. De forma geral, os protagonistas se encontram perdidos em sua própria auto-suficiência, em seu orgulho e vaidade, ou em seus medos.

Os descasos ou os descaminhos destes protagonistas ocorrem porque eles são, em essência, solitários. Vivem ou se escondem em seu próprio mundo e não percebem o caminho sinuoso que estão percorrendo. Somente o despertar desta consciência, proporcionado, sobretudo, pelo diálogo com o outro é que os protagonistas conseguem corrigir o seu caminho.

Os autores ainda foram felizes em mostrar que alguns encontram este caminho, mas outros, não. Pois a vida é assim. E isto é importante para o leitor; para que ele consiga, de fato, refletir sobre sua vida; que a decisão de tomar os diferentes caminhos precisa partir dele.

Enfim, este livro demonstra que ser espírita (ou rotular-se espírita) não é condição suficiente para se ver livre dos descaminhos da vida. Ao contrário, o descaso do invigilante faz com que ele tome rumos incertos e que podem lhe trazer dissabores. É, portanto, auspiciosa a publicação deste trabalho, principalmente porque na literatura espírita encontramos relativamente poucas obras com este viés mais crítico do espiritismo.

Discussão:
Seguem abaixo algumas passagens:

Página 9 do capítulo Apresentação:
Cada capítulo deste livro foi escrito em papel, aos olhos dos demais colegas de reunião, em intervalos de dez a vinte minutos.
É no mínimo curiosa esta explicação de como se deu a psicografia. Estaria o autor fazendo uma crítica àqueles que psicografam por intuição no computador e no aconchego do lar?

Página 28 do capítulo O filho de Amelinha:
O dia clareou lá fora e o sol entrou pela janela do quarto onde Amelinha adormecera. Ela não se recordava do sonho tumultuado que tivera, mas sentia-se estranhamente bem e revigorada.
A vida continuava e os dias futuros encontrariam uma mãe mais vigorosa e consoladora, não se sabe por quê.
É realmente difícil saber este por quê. Se não recordamos de nossos "sonhos" então de que forma nossas experiências fora do corpo refletiriam em nosso dia-a-dia?

Página 103 do capítulo O médium iluminado:
__ Qual era o nome do jovem? Com quantos anos desencarnou? - E Claro multiplicava as questões.
Horas depois, em meio ao público, acometiam-lhe à mente os dados narrados pela mãezinha, adicionados ao desejo de consolá-la e ao orgulho de ser médium, e uma página comovente reproduzia as informações dadas com uma narrativa ligada à trajetória do espírito pelo plano espiritual.
Esta narrativa nos reporta a uma crítica corajosa e necessária.

2 comentários:

  1. Vital,

    Obrigado pelos comentários, sempre honestos.

    Não tive a intenção de criticar quem psicografa na intimidade do lar. O próprio Kardec recomenda isso, e Chico era conhecido pelas psicografias nas horas de folga em Pedro Leopoldo. Tive a intenção de descrever ao leitor como se deu a elaboração do livro.

    Penso que em "O Filho de Amelinha", o Conselheiro refere-se aos impulsos inconscientes que uma experiência emocional marcante deixa nas pessoas. Nem só de consciência racional, como se desejava no século XIX, vive o espírito humano.

    Concordo imensamente com você. O médium não tem talento literário, acompanhar os ditados e transformá-los em narrativas ou crônicas foi um grande desafio para mim. Ainda bem que temos médiuns no Brasil do quilate de Yvonne Pereira...

    Um abraço e obrigado pela leitura tão atenta!

    Jáder

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  2. Legal, Jáder!

    Obrigado pelos esclarecimentos e pela boa recepção à análise.

    Abraço!

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